segunda-feira, 25 de abril de 2011

OLHE PARA TRÁS - LETÍCIA THOMPSON





Olhe para trás!



Está vendo o caminho percorrido?


Entre quedas e tropeços, subidas e descidas, momentos bons e ruins, chegamos até aqui.


Vivemos histórias que não pertencem a ninguém mais.


Guardamos na memória, fatos que máquina nenhuma no mundo conseguirá revelar.


Fazem parte das nossas lembranças, nossos passos e da pessoa única que somos.


Mas, infelizmente, temos o hábito de guardar cicatrizes do que nos fez infelizes e olharmos como uma lembrança distante e apagada o que nos deu alegria.


É possível ressentir uma grande dor com grande intensidade, trazendo à tona as msmas emoções vividas, mas como é difícil ressentir do mesmo jeito, uma felicidade que um dia nos fez vibrar!


O ideal seria inverter as situações.


Guardar na pele e na alma cicatrizes do que nos fez bem e nos lembrar do mal sem muita nitidez.


Guardar das pessoas o lado bom, o bem que nos fizeram e o que de bom vivemos juntos.


Talvez devesse constar com mais freqüência as palavras perdão e compreensão no nosso dicionário.


De vez em quando, digo, olhe para trás!


Mas não se volte completamente.


Olhe apenas o bastante para se lembrar das suas lições para que estas te sirvam no presente.


Não lamente o que ficou, o que fez ou deixou de fazer.


O que é importante seu coração carrega.


Olhe diante de si!


Há esse véu encobrindo o que virá, deixando entrever apenas o que seus sonhos permitem.


Mas existe dentro de você uma sabedoria de alguém que desbravou alguns anos da história.


Existe dentro de você, uma força que te torna capaz!


O dia chega insistente como as marés do oceano.


Às vezes calmo, outras turbulento, mas presente sempre.


Vivo sempre.


Cada noite dormida é uma vitória, cada manhã, um novo desafio.


E você nunca está sozinho, mesmo quando se sente solitário.


Tdo o seu passado está gravado em você, como gravadas estão as pessoas que você amou.


Levante esse véu pouquinho a pouquinho a cada amanhecer; sem pressa, saboreando a vida como uma aventura, nem sempre como um mar calmo e tranqüilo, mas possível, muito possivelmente vitoriosa.


Construa hoje as suas marcas de amanhã.


Letícia Thompson

sábado, 16 de abril de 2011

VOCÊ SABE OU VOCÊ SENTE? - Arthur da Távola


Você já reparou o quanto as pessoas falam dos outros?
Falam de tudo.
Da moral, do comportamento, dos sentimentos, das reações, dos medos, das imperfeições, dos erros, das criancices, ranzinzices, chatices, mesmices, grandezas, feitos, espantos.
Sobretudo falam do comportamento.

E falam porque supõem saber.

Mas não sabem.

Porque jamais foram capazes de sentir como o outro sente.

Se sentissem não falariam.

Só pode falar da dor de perder um filho, um pai que já perdeu, ou a mãe já ferida por tal amputação de vida.
Dou esse exemplo extremo porque ele ilustra melhor.
As pessoas falam da reação das outras e do comportamento delas quase sempre sem jamais terem sentido o que elas sentiram.

Mas sentir o que o outro sente não significa sentir por ele.

Isso é masoquismo.

Significa perceber o que ele sente e ser suficientemente forte para ajudá-lo exatamente pela capacidade de não se contaminar com o que o machucou.

Se nos deixarmos contaminar (fecundar?) pelo sentimento que o outro está sentindo, como teremos forças para ajudá-lo?

Só quem já foi capaz de sentir os muitos sentimentos do mundo é capaz de saber algo sobre as outras pessoas e aceitá-las, com tolerância.
Sentir os muitos sentimentos do mundo não é ser uma caixa de sofrimentos.
Isso é ser infeliz.

Sentir os muitos sentimentos do mundo é abrir-se a qualquer forma de sentimento.
É analisá-los interiormente, deixar todos os sentimentos de que somos dotados fluir sem barreiras, sem medos, os maus, os bons, os pérfidos, os sórdidos, os baixos, os elevados, os mais puros, os melhores, os santos.

Só quem deixou fluir sem barreiras, medos e defesas todos os próprios sentimentos, pode sabê-los, de senti-los no próximo.

Espere florescer a árvore do próprio sentimento.

Vivendo, aceitando as podas da realidade e se possível fecundando.

A verdade é que só sabemos o que já sentimos.

Podemos intuir, perceber, atinar; podemos até, conhecer. Mas saber jamais.
Só se sabe aquilo que já se sentiu.

Autor: Arthur da Távola

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Uma Mente Perigosa - Zuenir Ventura



Ainda não dá para mudar de assunto, por mais triste que seja continuar. Primeiro, o choque da chacina;
agora, o impacto dos manuscritos revelados pelo "Fantástico". Antes, muitas hipóteses haviam sido levantadas na busca de explicação para a tragédia de Realengo e para a motivação do atirador: fácil acesso às armas, falta de segurança na escola, fanatismo religioso, cultura da violência, vingança. A influência de cada um desses fatores no massacre variava conforme a visão de quem analisava. A isso veio se juntar o que foi alegado ou o que se depreende dos escritos deixados pelo suicida: humilhação, rejeição, a inspiração do 11 de setembro de 2001, a má interpretação do Alcorão, os ensinamentos da internet de como conseguir munições, o transtorno mental, as perseguições ou bullying.

Mas como essas possíveis causas não são excludentes, o mais provável é que o fator determinante tenha sido a explosiva conjugação de todas elas, convivendo numa cabeça atormentada e perigosa.

A primeira dificuldade de entender o que significam os textos do assassino é descobrir onde termina a realidade e começa a fantasia, o que é literal e o que é delírio. A ambiguidade está sempre presente. É uma escrita com erros de ortografia, mas com fluência, que grafa "escelência", mas usa termos mais ou menos cultos ("ícone", "meditação", "infiéis"). Uma mente tumultuada, mas que persegue com lógica o seu objetivo - tanto que conseguiu. Numa das cartas, ele denuncia como álibi: "Muitas vezes aconteceu comigo de ser agredido por um grupo e todos (...) se divertiam com as humilhações que eu sofria." Parece que não há registro disso na Tasso da Silveira, mas um antigo colega de turma de Wellington em outra escola relatou para os repórteres Mariana Belmont e Vinicius Lisboa dois episódios capazes de deixar sequelas no ego de uma personalidade equilibrada, quanto mais no de uma transtornada.

No primeiro, "três garotos enfiaram a cabeça dele no vaso sanitário". No segundo, "vi jogarem o cara de cabeça para baixo dentro de uma lata de lixo e tamparem". Segundo a testemunha, ele teve que balançar a lata e derrubá-la para sair. Não protestou, preferiu armazenar a raiva. Nenhum desses supostos abusos justifica o que ele fez dez anos depois, e contra outra escola, até porque há ocorrências diárias de bullying em todo o mundo, e as chacinas são exceção. Mas podem ter contribuído. Assim, da mesma maneira que se pensa em promover o desarmamento, seria a hora de repensar a questão da violência interna nos colégios. Fala-se muito em detector de metais na entrada, em guardas no portão, em aumentar enfim o policiamento. Fala-se pouco em combater, por meio de um controle rígido com inspetores e câmeras, esse provedor de ódio que é o bullying.

terça-feira, 12 de abril de 2011

A IDADE E A MUDANÇA - LYA LUFT


Mês passado participei de um evento sobre o Dia da Mulher.



Era um bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres de todas as raças, credos e idades. 


E por falar em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a minha e, como não me envergonho dela, respondi. 


Foi um momento inesquecível... 


A platéia inteira fez um 'oooohh' de descrédito. 


Aí fiquei pensando: 'pô, estou neste auditório há quase uma hora exibindo minha inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho? Onde é que nós estamos?'


Onde não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado 'juventude eterna'. Estão todos em busca da reversão do tempo.


Acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas. 


Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas mesmo em idade avançada.


A fonte da juventude chama-se "mudança".


De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver antes da hora. 


A única maneira de ser idoso sem envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para guinadas. 
Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos. 


Mudança, o que vem a ser tal coisa?


Minha mãe recentemente mudou do apartamento enorme em que morou a vida toda para um bem menorzinho. 


Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu.


Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos. 


Rejuvenesceu.


Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela vai à praia sempre que tem sol. 

Rejuvenesceu.

Toda mudança cobra um alto preço emocional. 


Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza. 


Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face.


Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna. 


Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho. 


Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar.

Olhe-se no espelho...


Lya Luft

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Definitivo - Carlos Drumond de Andrade














Definitivo, como tudo o que é simples. 
Nossa dor não advém das coisas vividas, 
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. 

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos 
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções 
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado 
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter 
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que 
gostaríamos de ter compartilhado, 
e não compartilhamos. 
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. 

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas 
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um 
amigo, para nadar, para namorar. 

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os 
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas 
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. 

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. 

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo 
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, 
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. 

Por que sofremos tanto por amor? 
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma 
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez 
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz. 

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um 
verso: 

Se iludindo menos e vivendo mais!!! 
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida 
está no amor que não damos, nas forças que não usamos, 
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do 
sofrimento,perdemos também a felicidade. 

A dor é inevitável. 
O sofrimento é opcional...


Carlos Drumond de Andrade
Dedico este poema as vitimas e familiares da tragédia em Realengo e a todas as pessoas que estão vivenciando a dor da perda.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Mulheres - Luís Fernando Veríssimo


"Certo dia parei para observar as mulheres e só pude concluir uma coisa: elas não são humanas. São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós.


Pare para refletir sobre o sexto-sentido.
Alguém duvida de que ele exista?


E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você?


E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou que você quer terminar o relacionamento?


E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco? Rio de Janeiro, 40 graus, você vai pegar um avião pra São Paulo. Só meia-hora de vôo. Ela fala pra você levar um casaco, porque "vai fazer frio". Você não leva. O que acontece?
O avião fica preso no tráfego, em terra, por quase duas horas, depois que você já entrou, antes de decolar. O ar condicionado chega a pingar gelo de tanto frio que faz lá dentro!
"Leve um sapato extra na mala, querido.
Vai que você pisa numa poça..."
Se você não levar o "sapato extra", meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro. Pois o seu estará, sem dúvida, molhado...


O sexto-sentido não faz sentido!


É a comunicação direta com Deus!
Assim é muito fácil...
As mulheres são mães!


E preparam, literalmente, gente dentro de si.
Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um reles mortal?


E não satisfeitas em ensinar a vida elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra, oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral.
Fala-se em "praga de mãe", "amor de mãe", "coração de mãe"...


Tudo isso é meio mágico...
Talvez Ele tenha instalado o dispositivo "coração de mãe" nos "anjos da guarda" de Seus filhos (que, aliás, foram criados à Sua imagem e semelhança).


As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravazam?


Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não sei quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê de amor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobre os homens...


É choro feminino. É choro de mulher...


Já viram como as mulheres conversam com os olhos?


Elas conseguem pedir uma à outra para mudar de assunto com apenas um olhar.
Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar.
E apontam uma terceira pessoa com outro olhar.
Quantos tipos de olhar existem?


Elas conhecem todos...


Parece que freqüentam escolas diferentes das que freqüentam os homens!
E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens.


EN-FEI-TI-ÇAM !


E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas?
Para estudar os homens, é claro!
Embora algumas disfarcem e estudem Exatas...


Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa seara. Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era "um continente obscuro".
Quer evidência maior do que essa?
Qualquer um que ama se aproxima de Deus.
E com as mulheres também é assim.


O amor as leva para perto dEle, já que Ele é o próprio amor. Por isso dizem "estar nas nuvens", quando apaixonadas.
É sabido que as mulheres confundem sexo e amor.
E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria vida.
Pena que eles nunca verão as mulheres-anjos que têm ao lado.
Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo.
Mas elas são anjos depois do sexo-amor.
É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos.
E levitam.
Algumas até voam.
Mas os homens não sabem disso.
E nem poderiam.
Porque são tomados por um encantamento
que os faz dormir nessa hora."


Luís Fernando Veríssimo

sábado, 2 de abril de 2011

Nem tudo é Fácil - Cecília Meireles


É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste. 
É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada
É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre.
É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia. 
É difícil enxergar o que a vida traz de bom, assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua. 
É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo. 
É difícil fazer alguém sorrir, assim como é fácil fazer chorar. 
É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim como é fácil olhar para o próprio umbigo. 
Se você errou, peça desculpas... 
É difícil pedir perdão? Mas quem disse que é fácil ser perdoado? 
Se alguém errou com você, perdoa-o... 
É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender? 
Se você sente algo, diga... 
É difícil se abrir? Mas quem disse que é fácil encontrar 
alguém que queira escutar? 
Se alguém reclama de você, ouça... 
É difícil ouvir certas coisas? Mas quem disse que é fácil ouvir você?
Se alguém te ama, ame-o...
É difícil entregar-se? Mas quem disse que é fácil ser feliz? 
Nem tudo é fácil na vida...Mas, com certeza, nada é impossível 
Precisamos acreditar, ter fé e lutar 
para que não apenas sonhemos, Mas também tornemos todos esses desejos, 
realidade!!!


Cecília Meireles